Um guia para a celebração do Trído Pascal
Nas celebrações da tarde de quinta-feira santa, da sexta-feira santa, do sábado santo e do santo domingo da ressurreição, a igreja faz memória das palavras e dos acontecimentos que Jesus viveu nos últimos dias da sua vida.
Repete-se para não esquecer, porque só com recordando (anamnese) se evita a amnésia, só com a recordação e a memória se afasta o esquecimento: quando um acontecimento deixa de ser recordado é como se ele não tivesse acontecido. Se os cristãos, portanto, não celebrassem cada ano o memorial da morte e da ressurreição de Cristo, o próprio Cristo seria esquecido, o dom do seu corpo e do seu sangue pela salvação de todos os homens não seria celebrado como acção de graças.
Porque é que os cristãos celebram a Páscoa?
«Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas e depois aos doze» (1 Cor 15, 3-4): esta é a primeira e originária confissão da fé cristã, formulada pelo apóstolo Paulo na sua Primeira carta aos cristãos de Corínto. A páscoa de Cristo – a sua paixão, a sua morte na cruz e a sua ressurreição – é o coração da fé cristã e é para os discípulos do Senhor o fundamento da sua fé: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé» recorda ainda o Apóstolo (1 Cor 15, 17). A fé cristã não pode subsistir sem a ressurreição de Cristo. Esta é a razão pela qual os cristãos continuam a celebrar, cada ano, a Páscoa do Senhor.
A fé cristã nasce da Páscoa
Celebrar todos os anos a Páscoa do Senhor, recordar e reviver os seus gestos e palavras, é confessar a fé na ressurreição de Cristo, é acreditar e testemunhar que a vida daquele homem, Jesus de Nazaré – o modo como ele viveu e como ele morreu e voltou à vida – possui ainda hoje um valor e um grande significado para a vida dos homens e para a história da humanidade.
A ressurreição e a fé
Com a ressurreição aprendemos que a fé é muito mais do que uma descrição doutrinária. A fé é a experiência do encontro com Deus em Jesus Cristo. Um encontro que é possível pelo facto de Jesus ter ressuscitado e, portanto, pelo facto de estar presente no hoje da comunidade. Justamente, a ressurreição de Cristo não é, à partida, um testemunho do passado, mas sim a presença de Cristo no tempo presente da humanidade e, mais ainda, no meio da comunidade cristã.
Se Jesus não tivesse ressuscitado, eu também não acreditaria
Eu não acreditaria que o Verbo se fez carne se ele não tivesse ressuscitado e não acreditaria na ressurreição de Cristo da qual me falam as fontes antigas se eu não tivesse fé, se hoje não tivesse encontrado o Ressuscitado: a ressurreição de Jesus não é a doutrina que me chegou do passado, mas a experiência que eu faço no presente e que me faz acreditar nos testemunhos do passado.
Se hoje ninguém fizesse experiência de fé, todo o cristianismo do passado acabaria no esquecimento e nos arquivos apenas importantes para os historiadores. O «hoje» da fé é a experiência que ontem, hoje e sempre a comunidade cristã faz.
D. Abade