actualidade
Pax!

Da associação dos antigos alunos - passeio

No seu passeio anual, os Antigos Alunos do Mosteiro de Singeverga e os Oblatos de S. Bento fizeram-se romeiros e demandaram Santiago de Compostela. Às sete e meia da manhã de 10 de Junho, Dia de Camões no calendário civil e do Santo Anjo da Guarda de Portugal no calendário litúrgico, partimos dos Clérigos, no Porto, num autocarro de 50 lugares. A despedir-se de nós, lá estava, a contagiar-nos com a boa disposição de sempre, o Padre José Gabriel.

Éramos 42, incluindo o Padre Geraldo, que desde muito nos acompanha, e o Padre Abel Matias, que acaba de suceder ao Padre Agostinho Machado como nosso Assistente; seja bem-vindo. E aqui uma palavra de gratidão e apreço da Associação ao Padre Agostinho.
Com as esposas dos nossos companheiros e as oblatas, as mulheres, se não eram a maioria, para lá caminhavam, o que levou o Padre Geraldo, à entrada para o autocarro, a comentar com humor que mais parecia o passeio das antigas alunas. O certo é que, pelos mais respeitáveis motivos, são mais os antigos alunos que faltam do que aqueles que aparecem. Valem os Oblatos e Oblatas para compor o ramalhete.
Não acabava o autocarro de arrancar, já o Presidente da Direcção da nossa Associação, Daniel Macedo Baptista, nos dava as boas-vindas e nos fazia começar o dia da melhor maneira com um Pai Nosso e uma Ave-Maria. E logo nos comunicava as saudações e votos de bom passeio enviados por alguns companheiros que não puderam vir. Foram eles: o Camilo Ferreira, o Casimiro Sousa, o Dr. Tomás de Aquino, o João Martins, o João Enes, o Matos e também o Padre Augusto Cima.
Evocando o começo destes passeios, lá nos Idos de 70, o Presidente encareceu o apoio que desde logo nos deu Singeverga, referindo que o Padre Teodoro, que era então o D. Abade, vinha propositadamente ao Porto, onde ficava em S. Bento da Vitória, para na manhã da partida, juntamente com os Padres Gaspar e Baptista, estar junto do autocarro a desejar boa viagem. Evocou também tempos mais recentes, em que nos acompanhavam o Padre João Crisóstomo, o Padre Jorge (ambos já falecidos) e o Padre Paulino. E lembrou sentidamente os companheiros já desaparecidos, entre eles a sua própria esposa, nomeando os últimos que nos deixaram: o Faria, o António Marinho, a Luísa Monteiro (ex-irmã Blandina), o Bento da Cruz, o João Narciso, o Miguel de Jesus…
E já o autocarro rolava na auto-estrada. Breve, passávamos Santo Tirso, como no-lo estava dizendo, do alto do seu monte sagrado, o Santuário de Nossa Senhora da Assunção, sobranceiro à cidade.

8 - Foto (1)

E penetrámos suavemente no Minho suave. A manhã era pura e serena, o céu claro e azul; ao longe, desenrolavam-se, nítidos, os montes; o escadório do Bom Jesus de Braga trepava tranquilamente a encosta e, lá mais de cima, foi-nos espiando por algum tempo, altaneira e branca, a cúpula do Sameiro.
Para cá dos montes, nos largos vales verdejantes, sucediam-se, para regalo dos olhos, entre macios arvoredos, as ridentes aldeias minhotas com suas hortas e vinhas bem granjeadas, e onde sempre avulta a torre da modesta igreja.
Parámos em Valença do Minho, na zona moderna extramuros, para o pequeno-almoço; e logo enfiámos todos para o mesmo amplo café onde, sobre o balcão, dois jornais, dois exemplares do Faro de Vigo, denunciavam a invasão galega destas terras.
Deixando para trás a ditosa Pátria, passámos o rio Minho e entrámos galhardamente na Galiza. E, se na paisagem não se notava diferença, alguma se notou nas nossas conversas, salpicadas agora por uma que outra galegada. Até que houvemos vista da ria de Vigo, sempre bela, sempre esplendorosa. Para quem ia atento, lá surgiu na estrada a placa indicando San Simòn. Mais não diz a placa. Di-lo a medieval cantiga de amigo: Sedia-me eu (estava eu) na ermida de San Simon / e cercaram-me as ondas que grandes son. É, pois, a secular ermida que as ondas (as águas) da ria rodeiam.
8 - Foto (2)

Ficaram-nos atrás as ondas do mar de Vigo / se sabedes novas do meu amigo, não demoraram a aparecer as calmas águas do rio que graciosamente circunda a austera Pontevedra. Já a visitáramos antes, noutro passeio, passámos agora adiante, que atardados já nós íamos e em risco de não chegarmos a horas à Missa do Peregrino em Santiago, como nos propuséramos. Não chegámos.
Missa começada, Catedral fechada, não houve remédio senão irmos para a longa fila de outros retardatários e aguardar pelo fim da Missa para entrar no templo. Porta franqueada, Padre Geraldo e Padre Matias celebraram para nós a Eucaristia numa capela lateral.
Depois da alma, fomos cuidar do corpo. Nem todos no mesmo restaurante, é certo, dentro da liberdade concedida pela própria convocatória; mas todos comemos bem, bebemos melhor, falámos pelos cotovelos, enfim… convivemos, que é para que mais servem estes encontros.
Entretemos a tarde errando nas velhas ruas adjacentes à Catedral, entre a turba que, como nós, ia e vinha, falando línguas diversas em que todos se entendiam, o espanhol, o galego, o português. E assim passeando, mais rigorosamente peripatetizando, alguma brilhante teoria filosófica podíamos ter produzido se entretanto não fosse chegada a hora de nos dirigirmos para o autocarro.
Regressámos por onde tínhamos ido, com paragem em Tuy. E, já de novo em Portugal, coroámos esta bela jornada rezando e cantando o Terço. Um dia memorável.
Da história deste passeio não nos ficam apenas as imagens que guardamos na retentiva. Ficam-nos também as muitas que o companheiro Duarte Xavier de Campos preciosamente gravou na fotografia.

Martins da Costa