Mosteiro de Singeverga
Pax!

Vida Beneditina

A chamada vida beneditina enquadra-se dentro da grande corrente espiritual que fez surgir o monaquismo no Ocidente. Apareceu primeiro no Oriente, por volta do século IV, como um fenómeno sócio-religioso. Ao longo dos séculos IV e V fez-se sentir um fecundo trajecto espiritual, no qual o monaquismo ocidental se viu enriquecido com a sábia vitalização trazida do Oriente. Entre os homens da primeira linha que mais contribuíram na implantação do monaquismo no Ocidente, nenhum alcançou tanta ressonância como Bento de Núrsia, o tão popular S. Bento. Nascido na região de Sabina, cidade de Núrsia, foi dotado de uma prudência admirável, sabendo adaptar maravilhosamente a espiritualidade e práticas monásticas orientais, ao génio e natureza próprias do homem ocidental. Hoje em dia, a Regra que nos deixou – síntese harmoniosa de toda a tradição monástica – aparece como um caminho seguro e atualizado, quando se descobre o filão da vida que a enforma, que é o evangelho.

Desde a primeira hora que a Igreja e todo o mundo cristão aprovaram este código normativo de vida familiar e cristã; e a quem deseja pautar a sua vida por ele, dá-se o nome de monge. O monge, no sentido mais radical do termo, sempre teve algo a dizer ao homem de todos os tempos, pois toda a sua actividade é orientada no sentido de Deus. Seguindo a sua vocação, o monge faz aquilo que é próprio de todo o cristão, mas fá-lo de forma distinta, passando Deus a ser o centro e a referência única da sua vida. Vida humilde e apagada e, por isso mesmo, pouco apreciada pelos que detêm o poder da economia e da ciência, para quem, somente, o homem escravo do trabalho, o "homo faber", pode responder à sua vocação de homem.

Devemos convir que o monge, visto exclusivamente sob o prisma da acção, não responde aos ideais materialistas do mundo moderno. Por isso, a vida monástica será apelidada, por eles, de anacrónica. Um enclave do passado no presente. O monge será o eterno atrasado, o inadaptado aos tempos ou, em termos mais expressivos, o parasita, o egoísta, o inútil. Foi esta filosofia de vida que o Iluminismo republicano tentou divulgar e enaltecer deixando, atrás de si, os males irreparáveis da destruição. Quando o ser humano é convidado a entrar mais dentro de si, isolando-se, entra efectivamente, como refere S. João, nos segredos de Deus. Fará parte de uma comunidade onde, para ele, tudo será comum, no dar e receber. E esta união, fundada na caridade, é que constitui a força e a beleza das comunidades beneditinas.

P. Paulino Luís de Castro, osb.