A introdução da regra de S. Bento no território português, como documento normativo de disciplina monástica, fez-se a partir do Concílio de Coyanza (1050/55?), Leão, Espanha, embora já fosse conhecida como documento de espiritualidade. Aderiram, então, à beneditização diversos mosteiros de observância autóctone (Regra de S. Frutuoso) na região do Entre Douro e Minho. Alguns monges, vindos de França (S. Geraldo de Braga e D. Bernardo de Coimbra), foram sagrados bispos, mas, durante a Idade Média, os beneditinos experimentaram certo relaxamento, atingidos sobretudo pela praga dos abades comendatários, que levaram os conventos à ruína.
Depois do Concílio de Trento(1563), após algumas tentativas de reforma, seria o rei D. Sebastião a favorecer a reformação monástica. Com o auxílio dos monges reformados de Castela, graças à acção de Fr. Pedro de Chaves e Fr. Plácido Vilalobos, o Papa Pio V, com bulas de 1566 e 1567, executadas pelo Cardeal D. Henrique, instituiu a “Congregação dos Monges Negros de S. Bento dos Reinos de Portugal”. A partir do Mosteiro de Tibães, regido pelo Abade Geral com Capítulo Geral e abades trienais, a Congregação fundou mosteiros em Lisboa, Santarém e Porto, para além de reformar alguns dos já existentes, contando 22 abadias na Metrópole e estendendo-se para o Brasil desde 1580/81, onde contou 11 mosteiros: Baía, Rio de Janeiro, Olinda, Paraíba, S. Paulo, Brotas, etc. A partir da instituição da Congregação, monges portugueses restauraram os mosteiros, reformaram a disciplina e observância monásticas, entregaram-se ao estudo, mesmo na Universidade, e à pregação, até que, em 28-30/5/1834, se deu a extinção das Ordens Religiosas pelo Liberalismo.
A restauração monástica na época moderna começou por obra e graça dum monge do Rio de Janeiro, de nacionalidade portuguesa, D. Fr. João de Santa Gertrudes Leite de Amorim (1818-1894), primeiro e transitoriamente em Paço de Sousa (1865), depois, em definitivo, no antigo mosteiro de Cucujães (1875), feito Priorado Conventual (29/7/1876) e elevado a abadia (8/6/1888). Foi daqui que, ajudados por monges de Beuron, vieram fundar Singeverga e, depois de anos sob a tutela do Mosteiro de S. Paulo Extra-Muros, Roma, se integraram na Congregação de Beuron em 1904, donde passariam, em 1931, para a Congregação da Anunciação.
Os monges de Singeverga patrocinaram a fundação dos mosteiros de beneditinas:
- Mosteiro de Santa Escolástica, Roriz, Santo Tirso
- Mosteiro das Beneditinas Missionárias de Tutzing, Baltar (Paredes).
Painéis da Sala do Capítulo, da autoria de Cláudio Pastro

Explicação do painel:
(Resumo)
Estes dois painéis constituem um só.
-O primeiro apresenta a formação do monaquismo em Portugal e da nacionalidade portuguesa.
-O segundo, a formação da Congregação Beneditina até Singeverga.
-Esteticamente, o painel tem um grande elemento básico que é a videira, no estilo do esmalte de Limoges, que foi um trabalho característico dos monges, na Idade Média, sobretudo a partir de Cluny; à direita, faixas, adornos, galões, com a videira e pássaros, a lembrar as igrejas barrocas. Esta videira é o símbolo de Cristo, símbolo da unidade (unidade do monaquismo, unidade nacional). Ela é interceptada nalguns pontos, particularmente em 1834 e 1910.
-Finalmente, na extrema direita, em baixo, encontra-se uma pequena videira, mais natural, que se confunde com os corpos dos primeiros monges que aqui chegaram. Com ela pretende-se dizer que Singeverga retoma esta videira e, portanto a unidade.
(texto desenvolvido)
Estes dois painéis constituem um só. O primeiro apresenta a formação do monaquismo em Portugal e da nacionalidade portuguesa. O segundo, a formação da Congregação Beneditina até Singeverga.
Faltam alguns elementos. Aqui encontram-se apenas os essenciais.
Esteticamente, o painel tem um grande elemento básico que é a videira. À esquerda, encontra-se a videira, no estilo do esmalte de Limoges, que foi um grande trabalho dos monges, na Idade Média, sobretudo a partir de Cluny; à direita, faixas, adornos, galões, com a videira e pássaros, a lembrar as igrejas barrocas.
Esta videira é o símbolo de Cristo, símbolo da unidade (unidade do monaquismo, unidade nacional). Ela é interceptada nalguns pontos, particularmente em 1834 e 1910. Finalmente, na extrema direita, em baixo, encontra-se uma pequena videira, mais ao natural, que se confunde com os corpos dos primeiros monges que aqui chegaram, para dizer que Singeverga retoma esta grande videira e, portanto, a unidade.
Centremo-nos agora no 1º painel. O centro do monaquismo e do monaquismo em Portugal é, como S. Bento quer, Cristo. A Regra beneditina é cristocêntrica. Cristo é a luz do mundo, o centro que ilumina, que atrai, e S. Bento é o homem da sequela, que segue a Cristo, e a auréola de Cristo é a própria auréola de Bento e o seu olhar é penetrado pela mesma luz de Cristo, os seus olhos são os de Cristo. Segundo a Regra, o monge é o homem que segue a Cristo, que pauta a sua vida pelo Evangelho, daí a frase da Regra que se encontra na sua mão esquerda: "per ducatum Evangelii" (conduzidos pelo Evangelho). Na mão direita, Bento segura a cruz, pois Cristo disse: " Quem quiser vir após Mim, tome a sua cruz e siga-Me". S. Bento não é um homem à parte, mas a síntese do monaquismo na sua época. Na haste da cruz, situam-se os anacoretas e o movimento cenobita: S. Paulo de Tebas, S. Antão, e, já no cenobitismo, S. Pacómio e aquele que S. Bento tanto admirava, S. Basílio, o Grande. Toda esta síntese se funde, incide em Monte-Cassino, em 547, ano da morte de S. Bento. Vem, em seguida, o ORA ET LABORA, que sai de Monte-Cassino como a querer irradiar pelo mundo inteiro. Mais acima surge a medalha de S. Bento, que tem um grande significado, não a nível supersticioso, como no Brasil, mas a nível baptismal: a negação do mal e a adesão a Cristo. Vem, depois, o monaquismo autóctone, o monaquismo em Portugal: 580, S. Martinho de Dume; ao lado, S. Frutuoso e a Sé de Braga, ano de 665; em seguida, S. Rosendo, 907, que já vai adoptar a Regra beneditina.
No centro da videira, AIX-LA-CHAPELLE, o famoso concílio que impõe a Regra beneditina a todo o Império. Isto vai ser determinante. Ao lado de Aix-la-Chapelle, uma águia visigótica, estilizada, como se encontra num dos museus, em esmalte, e o monograma, a assinatura de Carlos Magno, K R S L, e o centro como um losango que afaz o a, o, u de Karolus, para exprimir que, assim como o Império bárbaro submeteu o Império Romano pela força, S. Bento, pela fé, pela palavra, submete todo o Império bárbaro. Há uma inversão.
Do lado esquerdo da videira, já dentro de S. Bento, encontra-se o Conde D. Henrique, porque não foi por acaso que ele convidou os beneditinos de Cluny. Também ele estava imbuído do espírito beneditino da sua época, e revela um grande acto de inteligência em convidar os monges negros para o ajudar na colonização da região norte. Acima do monge negro está Cluny, 1100, depois, o primeiro arcebispo de Braga, S. Geraldo, que seria um monge Cluniacense e que teria vindo de Sahagum, em 1108 (dentro do corpo de S. Geraldo pode ver-se o mosteiro de Sahagum). Mais abaixo, uma das primeiras fundações beneditinas: S. Pedro de Rates, em estilo românico.
Do lado oposto da videira, aparece D. Afonso Henriques, envolto na videira, e que convidará os monges cistercienses. No alto, encontra-se Cister e depois os mosteiros cistercienses de Tarouca, Salzedas e Alcobaça. Mais em baixo, junto da pá, os cavaleiros de Avis e de Cristo. D. Afonso Henriques está envolto por esta luz do anjo: é um pormenor muito importante. A presença do anjo, que une as duas partes do painel, seria a presença do invisível, do sagrado, no meio desta história. Não é uma história humana mas uma história divina que continua na nossa história humana. Exprime também o louvor monástico que é feito na presença dos anjos.
O segundo painel representa a formação da Congregação Beneditina Portuguesa. Retoma-se a grande videira, no alto, com pássaros, que têm um ar de alegria, de festa. A videira é símbolo do mistério, porque o vinho é aquilo que nos inebria e nos coloca acima da realidade, dá-nos a alegria de viver.
Vê-se, em primeiro lugar, Fr. António de Sá, que veio de Monserrate e estabeleceu as bases desta Congregação Beneditina. Vem, depois, a Morenita, Nossa Senhora de Monserrate, ex-libris daquele mosteiro e santuário mariano. Em seguida, o Papa Pio V, que vai aprovar a fundação da dita Congregação, e os dois monges vindos de Valladolid e as armas de Valladolid, que serão adoptadas pela Congregação Portuguesa. Abaixo, encontra-se a fachada estilizada do Mosteiro de S. Tirso, depois, uma série de mosteiros beneditinos, cujo centro é Tibães (as duas torres que estão por baixo do Papa) e fachadas de muitos mosteiros portugueses (eram 22) e brasileiros (já no corpo de Fr. João de Sta. Gertrudes encontra-se o do Rio de Janeiro). Isto dá uma ideia de que, neste momento da história beneditina Portuguesa, existe uma Jerusalém celeste, tal é o conjunto de fortalezas monásticas que faz com que o país constitua como que uma cidade única.
Em 1834, todo este esplendor é interrompido e há aqui uma secção: vê-se o triângulo e as armas da maçonaria e do Império.
Pouco depois, chega do Rio de Janeiro Fr. João de Santa Gertrudes, que está como que iluminado pela luz do anjo. A sua chegada é também como que uma perpetuação do invisível, da Providência. Como se pode notar, Fr. João tem uma cogula muito sumptuosa porque D. Miquelina, numa das suas cartas, fala da cogula de Fr. João que ela teria levado a Roriz ou trazido de Roriz. Isto mostra que já havia um relacionamento estreito entre D. Miquelina e Fr. João de Santa Gertrudes. Por isso é que está aqui representada a igreja de Roriz, em 1865. Desta data até 1875, Fr. João teria ali exercido a cura da paróquia.
Em 1875, Fr. João compra Cucujães e, assim, restaura a vida monástica que seria interrompida em 1910, mas que, através da acção da família Gouveia Azevedo, em 1892, prosseguirá.
O facto principal de Singeverga é a doação desta família e particularmente dessa mulher extraordinária, D. Miquelina, que se vê no gesto das flores lançadas do passadiço, no momento da chegada dos quatro monges. Vem, depois, a videira, que renasce como que a querer ligar-se com a antiga videira gloriosa. Em seguida, vê-se a Escola Claustral, a casa antiga da família Gouveia Azevedo com a capela de S. João Baptista, e as missões em Angola com alguns elementos característicos muito importantes: a máscara, o bastão, o pote, o tambor, elemento de comunicação: a Palavra que é levada a Angola.
O Pai de D. Miquelina é uma figura simpática e profética: contempla Fr. João de Santa Gertrudes e todo este passado glorioso como que a adivinhar que a vida monástica será retomada.