Frei Bernardo Vasconcelos declarado «Venerável»

O Papa Francisco, no dia 14 do mês de Junho, aprovou e assinou o decreto que oficialmente declara Frei Bernardo «Venerável». Este processo por etapas leva ao reconhecimento de todos os cristãos que tenham levado uma vida exemplar de testemunho das virtudes cristãs, e que sejam modelos de santidade para a Igreja.
Bernardo de Vasconcelos nasceu em Romão do Corgo, Braga, a 7 de Julho de 1902. Na demanda pela vocação, que aos poucos vai descobrindo, procura segundo palavras do próprio «o lugar que devo ocupar entre os sacerdotes». Assim entra para a Ordem Beneditina em 1924, que até então se estabilizava em Portugal no anonimato, por causa da situação política e anti-religiosa.

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Vitimado pela doença Mal de Pott, que o faz abandonar os estudos teológicos na Bélgica, e que o coloca numa situação de especial sofrimento, do qual foi um privilegiado no caminho da vida mística, volta a Portugal para a sua comunidade, que dava os primeiros passos em Cucujães e em Singeverga. Até nós chegaram alguns escritos e os seus poemas, publicados logo após a sua morte, em Julho de 1932, a poucos dias de fazer 30 anos. Por eles temos a prova de um caminho de grande amor a Deus e aos homens, em especial pelos pobres, moldado pelo sofrimento da doença, então incurável. Na sua generosidade, de quem tão pouco tinha, partilhava, com a alegria de uma vida de doente, as maiores virtudes cristãs, incluindo a caridade, a paciência e a perseverança. Nesse caminho, igualável ao trilho dos mártires, fazendo-se «hóstia em sangue», como nos diz num dos seus poemas, Frei Bernardo vive uma realidade não só de ideal, mas também de concreta e realizada felicidade.
O Processo para a Causa de Beatificação foi instaurado em Roma, no ano de 1993, por Dom Eurico Nogueira, Arcebispo de Braga, depois de um pedido formal feito por Dom Gabriel de Sousa, Abade de Singeverga, em conjunto com os sacerdotes do Arciprestado de Celorico de Basto. Muitos anos antes, Dom António Coelho já espalhava a devoção do monge-poeta, recolhendo inúmeras graças, que fizeram de Frei Bernardo um conhecido “santinho” entre o bom povo.
A aprovação do estatuto canónico de VENERÁVEL pelo Papa Francisco torna-se mais uma etapa de reconhecimento de um português que pode vir a ser considerado modelo para a juventude da Igreja, em especial para os jovens que aspiram ao sacerdócio e para os estudantes universitários. Bernardo desejava ser religioso e também sacerdote; foi como estudante da Faculdade de Direito na Universidade de Coimbra, e como membro fundador do CADC (Centro de estudos e movimento estudantil católico), que sentiu o chamamento à vida monástica e sacerdotal.
Em pleno Ano Jubilar da Misericórdia, a figura deste monge beneditino, agora declarado “Venerável”, vem relembrar que Deus age na Igreja, dando os seus dons nas horas necessárias e oportunas, como manifestação do seu amor. Os seus desígnios são mais visíveis no pleno crescimento e identidade da fé, e também no confronto de um tempo onde as ideias humanas carecem de significação religiosa. Os sinais de Deus são muitas vezes linguagem própria e emergente para o nosso hoje, que esquece a palavra incarnada do Evangelho. Que a santidade de Frei Bernardo, que conhece mais uma aprovação por parte da Igreja, seja, de facto, ocasião para todos os cristãos portugueses se empenharem mais na sua fé, vivendo a caridade fraterna e fazendo da oração um trilho até ao coração de Deus.

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